O Piauí e parte do Brasil conhecem muito bem quem é o adolescente Izael Francisco de Brito Araújo, 19 anos. É o rapaz do programa de soletração da TV Globo. Ele está disputando a final do mais importante concurso de soletração do Brasil, o Soletrando dos Campeões. Ele já levou um, o de 2011. Agora tenta ser o único bi-campeão do país. Independente disso, Izael Araújo é prova da vitória de uma escola pública que dá certo.

Izael Araújo: representação da vitória via estudos. Vem de escola pública. Foto: Reprodução TV Globo
O mérito é pessoal. Mas só ocorreu pelo conjunto dos esforços de dezenas de pessoas que suaram, lutaram e sonharam pela educação pública, verdadeiramente de qualidade. Ele é fruto de tudo isso junto.

Mas por que dá certo? Ele é um gênio? É uma super-exceção à regra? Como ocorreram as oportunidades mesmo residindo e estudando em uma cidade longínqua, pobre e muitas vezes esquecidas, em pleno Sertão nordestino?

Izael Araújo é a cara da escola pública que vem dando certo no Piauí. Uma escola completa que, através dos níveis sociais, desbanca quase a totalidade das instituições privadas de ensino do estado.

Ganhando ou não o Soletrando dos Campeões Izael Araújo é um vencedor e leva consigo o nome da Escola Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves (a 262 quilômetros ao Norte de Teresina). Carrega o nome do ensino público. Que é bancado por nossos impostos.

Piauiense vencedor do Soletrando. Foto: Reprodução TV Globo
O caso de Cocal dos Alves é conhecido nacionalmente. Lá não é uma cidade de gênios, a escola não é a das de melhor estrutura. O segredo é que há um conjunto de professores, de união familiar, de brilhos nos olhos de crianças e adolescentes abastecidos por sonhos que, sonhados coletivamente, viram realidade e elencam o exemplo da cidade.

Ah...Izael não é um caso isolado, não é exceção na cidade. É quase regra. Quem quer estudar em Cocal dos Alves tem uma chance maior de vencer na vida. Os professores não são gênios, são compromissados. Os pais não vivem melhor do que os de outros municípios. Muitos são semi-analfabetos e pobres (não muito diferentes de uma parcela significativa dos brasileiros). Mas foram sensibilizados em incentivar os filhos a estudar. Uma parte desses já não mora mais com eles, pois estão “estudando fora”, já fazendo faculdades e em cursos bem concorridos. Quase todos voltarão a morar lá invertendo uma lógica de que quem é pobre e do interior tem de penar com sub-empregos. Não, eles se formarão, virão professores, médicos, advogados, engenheiros, jornalistas ... e continuarão melhorando a sociedade.

E por que isso não ocorre nos outros 223 municípios do Piauí? E nos mais de 5.500 do Brasil? Ocorre, sim! Mas, muitas vezes, histórias desse tipo não vendem jornais e muito menos atraem interesses da gente. Mas devem ser mais e mais mostradas e incentivar, mais e mais, os nossos jovens.

Izael disputa finalíssima dos campeões de soletração do Brasil com concorrente de SP. Foto: Reprodução TV Globo
E a escola Augustinho Brandão é uma entre algumas do Piauí com bons índices. Todas seguem a mesma risca: compromisso das partes envolvidas no processo. E por que isso não ocorre e não é regra? Pergunte aos seus professores, filhos, pais, e, principalmente, governantes. Aliás: você ainda lembra de quem votou?

É bom lembrar de Izael Araújo, mas também é bom lembrar que precisamos mais escolas e que a boa escola pública seja regra.

Soletrar VENCEDOR é bem facinho para Izael e quase todas e todos que saem da escola de Cocal dos Alves. Pois há muito tempo soletram o termo COMPROMISSO.


* Jornalista e professor universitário. Atua em O Olho via Projeto de Pesquisa de Etnografia das Redações tentando entender o modo de fazer jornalismo no Piauí.